Dados do Trabalho

Título

Avaliação do fenótipo celular e do perfil de resposta imune tecidual em sistema nervoso central de casos de raiva humana transmitida por Desmodus rotundus.

Introdução

A raiva é uma doença tropical negligenciada, 100% prevenível por vacina, contudo, ainda causa mais de 60.000 mortes/ano em todo o mundo. No Brasil, houve uma mudança no perfil epidemiológico dessa zoonose, considerando o número de casos transmitidos por animais silvestres, dentre eles, os morcegos hematófagos, responsáveis pela ocorrência de surtos, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste do país. Sendo assim, a melhor compreensão da resposta imune do hospedeiro frente ao vírus da raiva pode contribuir para a determinação de novas estratégias terapêuticas para essa neuroinfecção, quase invariavelmente fatal. 

Objetivo (s)

O objetivo do estudo foi avaliar, por meio da técnica de imuno-histoquímica, o fenótipo celular (linfócitos TCD4+, TCD8+ e B; células NK, macrófagos e astrócitos) e o perfil de resposta imune (Th1,Th2, Th3 e Th17) em amostras de sistema nervoso central (SNC) de casos de raiva humana (n=8) transmitida por morcego hematófago (Desmodus rotundus) e, comparar ao grupo controle (n=8) sem infecção. 

Material e Métodos

As células imunomarcadas foram quantificadas com auxílio de um gratículo de 1cm2, acoplado à uma ocular de 10x e objetiva de 40x e, os resultados expressos em células/mm2. A análise estatística foi realizada pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney (p≤0,05). O estudo teve aprovação da CAPPesq nº 057/15 e Plataforma Brasil parecer nº 3.406.853.

Resultados e Conclusão

Em relação ao fenótipo celular, houve aumento estatisticamente significante (p≤0,05) no número de linfócitos TCD8+ e B (CD20+), células NK, macrófagos (CD68+) e astrócitos nos casos de raiva quando comparado ao grupo controle. Enquanto que, o número de linfócitos TCD4+ foi semelhante entre os grupos (p>0,05). A baixa expressão de IFN-γ nos casos de raiva, pode ser reflexo da manipulação direta do vírus, através da proteína P nas vias de sinalização para produção dessa citocina, ou ainda indiretamente, com a alta expressão de IL-23, interferindo na fosforilação de STAT4, regulando negativamente a produção de IFN-γ, induzida pela IL-12 e, ocasionando o prejuízo da resposta Th1. Os resultados desse estudo sugerem que, o processo inflamatório no SNC em decorrência da raiva humana transmitida por Desmodus rotundus se dá pelo predomínio local de linfócitos TCD8+, o que poderia estar associado a um quadro de paralisia nesses pacientes, acometendo diferentes regiões do SNC, em especial o tronco encefálico. Ainda, a resposta imune direcionada para o perfil Th2/Th3 foi determinada pela maior expressão de IL-4, IL-10 e TGF-β.

Palavras Chave

raiva; resposta imune; morcegos hematófagos; citocinas; SNC