Dados do Trabalho

Título

Análise de 12 anos de acidentes crotálicos no Centro de Toxicologia de Minas Gerais: uma coorte retrospectiva para avaliação dos fatores de gravidade

Introdução

Os acidentes crotálicos representam cerca de 7,8% dos ofidismos registrados anualmente no Brasil, sendo que em 2023 foram notificados 2.659 acidentes por cascavéis. A casuística dos acidentes atendidos na unidade de referência toxicológica de Minas Gerais (MG) apresenta características distintas ao padrão nacional, influenciada por fatores geográficos, ambientais e sociodemográficos.

Objetivo (s)

Analisar o perfil epidemiológico, clínico, laboratorial e desfechos das vítimas de acidentes crotálicos atendidos na unidade de referência toxicológica de MG.

Material e Métodos

Coorte retrospectiva, que analisou pacientes atendidos na unidade de referência toxicológica de MG entre janeiro/2011 e janeiro/2023. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Hospitalar de MG (CAAE 03815912.4.0000.5119). Os dados foram coletados de prontuários eletrônicos. A regressão logística multivariada foi empregada para avaliar os fatores que poderiam estar associados ao acidente grave, expressados por meio de odds ratios (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC 95%).

Resultados e Conclusão

Entre os 415 pacientes (idade mediana 41 anos, intervalo interquartílico [IIQ 23-45], 79,5% homens, 69,6% pardos), 73,7% reportaram acidente em zonas rurais, 28,9% foram atendidos com mais de 6h após o acidente e 68,8% apresentaram picada em membros inferiores. A serpente não foi identificada em 14,2% dos casos. Entre os que tiveram manifestações locais (n= 374, 90,1%), a dor foi a mais comum (80,7%). Foram observadas manifestações sistêmicas em 74,2%, sendo mais comuns as neuroparalíticas (67,2%), miolíticas/hemolíticas (37,1%), vagais (19,8%) e renais (17,1%). Cento e oitenta e três foram classificados como casos graves (44,1%) e 4 pacientes vieram a óbito. Os fatores relacionados à gravidade foram: idade > 50 anos e < 20 anos (OR 2,99 [IC 95%: 1,65 a 5,50] e OR 1,79 [IC 95%: 1,08 a 2,96]), tempo de atendimento > 6h (OR 4,04 [IC 95%: 2,46 a 6,72]), não identificação da serpente (OR 4,18; [IC 95%: 2,06 a 8,77]) e acidente em zona rural (OR 1,48 [IC 95% 0,83-2,70]). O perfil do paciente mais acometido por acidentes crotálicos foi de homens, pardos, na idade economicamente ativa e provenientes de zona rural. Os acidentes ocorridos em zona rural, nos quais a serpente não foi identificada e cujo tempo até o atendimento foi maior que 6 horas, especialmente em pacientes com < 20 ou > 50 anos, foram associados a maior gravidade.

Palavras Chave

Crotalus; Epidemiologia; sinais e sintomas; Mordeduras de Serpentes