Dados do Trabalho

Título

Caracterização da ocorrência do abandono ao tratamento da leishmaniose visceral no estado brasileiro de Mato Grosso.

Introdução

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença cujo tratamento é complexo, pois possui limitações relacionadas à duração, toxicidade e administração. Assim, é válido considerar a possibilidade de abandono ao tratamento por parte dos pacientes, como já demonstrado para outras doenças infecciosas e parasitárias. Contudo, não existem estudos que investiguem essa temática no Brasil.

Objetivo (s)

Caracterizar a ocorrência do abandono ao tratamento da LV no estado de Mato Grosso (MT), uma importante área endêmica brasileira para a doença.

Material e Métodos

Os dados referentes aos novos casos de LV confirmados residentes em MT e notificados entre 2007 e 2022 foram obtidos por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Foram excluídos casos cuja entrada se deu por recidiva ou transferência. O coeficiente global e anual de abandono da LV foi calculado para todo o estado e para cada município, pela divisão do número de pacientes que abandonaram o tratamento pelo total de casos novos. Ademais, as características sociodemográficas, clínicas e terapêuticas dos casos que abandonaram o tratamento foram descritas. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Rondonópolis sob nº 6.679.133.

Resultados e Conclusão

No período, foram notificados 490 casos de LV em MT, dos quais 6 abandonaram o tratamento. O coeficiente global de abandono para o estado foi de 1,2% (IC95%= 0,3-2,2%). No triênio 2007-2009, o coeficiente variou entre 1,7% e 3,2%. Nos anos subsequentes, não houve nenhum caso de abandono, até que em 2019 e 2022 foram registrados coeficientes de 11,1% e 5,2%, respectivamente. Apenas 4 municípios registraram casos de abandono, a saber (coeficiente de abandono municipal): Campos de Júlio (50%), Sinop (25%), Cuiabá (2,77%) e Rondonópolis (1,17%). Dentre os indivíduos que abandonaram, 50% eram do sexo feminino, 83,3% eram pardos e nenhum possuía ensino médio completo ou escolaridade superior. A idade média (desvio-padrão) dos casos era de 39,8 (14,8) anos. Em relação às características clínicas, febre, fraqueza, emagrecimento e hepatoesplenomegalia estavam presentes em 83,3% dos casos de abandono e apenas um paciente apresentava coinfecção LV/HIV. Ademais, 50% dos pacientes que abandonaram tiveram antimonial pentavalente como droga inicial. O abandono ao tratamento da LV em MT, embora baixo, é preocupante, visto que a doença é curável e possui tratamento definido e disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, que, se não realizado adequadamente, resulta em alta letalidade.

Palavras Chave

Leishmaniose Visceral; Abandono de Tratamento; Mato Grosso.