Dados do Trabalho
Título
Abandono ao tratamento de leishmaniose visceral: uma preocupação a mais para os indivíduos coinfectados com HIV/AIDS no Brasil?
Introdução
A ocorrência de leishmaniose visceral (LV) entre pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) é crescente e preocupante no Brasil, principalmente porque o curso da LV nos coinfectados possui altas taxas de recidiva e letalidade. Dificuldades relacionadas à adesão ao tratamento antirretroviral e de infecções oportunistas têm sido reportadas entre PVHA. Embora o atual esquema terapêutico da LV apresente diversas limitações no que diz respeito à administração e toxicidade, não há estudos que investiguem o abandono ao tratamento antiparasitário entre indivíduos com a coinfecção LV/HIV.
Objetivo (s)
O presente trabalho investigou o impacto da coinfecção LV/HIV no abandono ao tratamento da LV entre os casos da doença notificados no Brasil.
Material e Métodos
Trata-se de um estudo epidemiológico transversal que analisou microdados referentes aos casos confirmados de LV e notificados no Brasil, entre 2007 e 2020, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Considerando a hipótese principal de que indivíduos coinfectados apresentam menor adesão terapêutica, o abandono ao tratamento da LV (sim/não) foi modelado em função do status da coinfecção LV/HIV (sim/não/desconhecido) utilizando-se uma regressão logística múltipla. Na modelagem, foi ainda considerado o efeito de potenciais preditores sociodemográficos, clínicos e terapêuticos no desfecho.
Resultados e Conclusão
No período analisado, foram notificados 365 casos de LV com abandono terapêutico no Brasil, dos quais 59,2% (n=216) eram PVAH. A chance de abandono foi maior entre indivíduos com a coinfecção LV/HIV do que entre os não coinfectados (OR=2,6;IC95%=1,8-3,8). Um maior abandono também foi observado considerando-se a idade dos casos (OR=1,5;IC95%=1,4-1,7), residência nas regiões Nordeste (OR=1,5;IC95%=1,1-2,0) e Centro-Oeste (OR=1,9;IC95%=1,2-2,9), não ocorrência de febre no momento da notificação do caso (OR=1,8;IC95%=1,2-2,6) e tratamento com anfotericina B desoxicolato (OR=1,7;IC95%=1,0-2,7), antimonial pentavalente (OR= 2,5;IC95%=1,7-3,7) e outros esquemas (OR=3,0;IC95%=1,6-6,0). Em contraste, a ocorrência de infecção secundária (OR=0,7;IC95%=0,5-0,9) e hepatomegalia (OR=0,7;IC95%=0,5-0,9) no momento da notificação associou-se a uma menor chance de abandono. Os dados sugerem que a coinfecção LV/HIV é um importante fator associado ao abandono ao tratamento da LV no Brasil, mesmo após ajuste de variáveis sociodemográficas, clínicas e terapêuticas. Assim, o abandono terapêutico parece ser mais uma preocupação a ser considerada no manejo da LV em PVHA no país.
Palavras Chave
Leishmaniose Visceral; hiv; Tratamento.
Área
Eixo 06 | 2.Protozooses humanas e veterinárias - Leishmaniose
Prêmio Jovem Pesquisador
1.Concorrer na categoria - Graduado
Autores
Gabriella Fernandes Teixeira, Amanda Gabriela de Carvalho, Ludiele Souza Castro, João Gabriel Guimarães Luz