Dados do Trabalho


Título

POSSÍVEIS FATORES DE RISCO RELACIONADOS AO ABANDONO DO ESQUEMA PROFILÁTICO ANTIRRÁBICO HUMANO NO BRASIL EM 2022

Introdução

A raiva é uma zoonose viral de altíssima letalidade causada pelo Lyssavirus, com impacto significativo na saúde pública global. Apesar de prevenível pela vacinação, permanece negligenciada, com 47 casos confirmados e 45 óbitos (95,5% de letalidade) em seres humanos no Brasil entre 2010 e 2023. Isso destaca a necessidade de entender possíveis falhas nas estratégias profiláticas contra a enfermidade. 

Objetivo (s)

Objetivou-se realizar uma análise dos fatores de risco relacionados ao abandono do esquema profilático após potencial exposição ao vírus no Brasil em 2022.

Material e Métodos

Trata-se de uma pesquisa retrospectiva utilizando dados secundários do Ministério da Saúde no sistema Datasus.

Resultados e Conclusão

Foram notificados 584.392 casos de atendimento antirrábico, com 43.396 interrupções do tratamento por abandono (7,5%). Entre os fatores analisados, destacou-se o fato de que indivíduos do sexo masculino apresentarem um abandono do tratamento 15% [Intervalo de confiança 95% (IC95%) 1,14-1,19] maior que o feminino. A faixa etária jovem (15-29 anos) apresentou maior proporção de interrupção do esquema pós-exposição: tendo 80% (IC95%: 1,75-1,86) mais chance comparados com crianças (<15 anos), 31% (IC95%: 1,28-1,34) com adultos (30-59 anos), e 96% (IC95%: 1,89-2,0) com idosos (+60 anos). Quanto ao grau de escolaridade, identificou-se que indivíduos com ensino médio completo até o nível superior completo apresentaram 35% (IC95%: 1,31-1,39) mais chance de abandono das medidas de profilaxia que indivíduos com menor grau de escolaridade (analfabetos até pessoas com ensino fundamental completo). Além disso, indivíduos negros apresentaram maior taxa de abandono do tratamento quando comparados às demais raças, sendo mais significativo em relação aos indivíduos brancos, com 41% (IC95%: 1,35-1,46) mais chances de abandono. Não houve associação significativa entre o abandono e as espécies agressoras (cães, gatos, equinos, bovinos e animais silvestres). Os resultados permitem concluir que os indivíduos com maior chance de interromper o tratamento pós-exposição à raiva são homens negros, jovens e com maior grau de escolaridade. Isso ressalta a importância de direcionar estratégias específicas para esses grupos e aumentar a conscientização sobre a importância da continuidade e conclusão do protocolo prescrito. O monitoramento contínuo do perfil da população que abandona o tratamento permite identificar grupos de risco e implementar medidas preventivas específicas, contribuindo para o controle mais eficiente da doença.    

Palavras Chave

zoonose; Epidemiologia; Saúde Pública; Vacinação

Área

Eixo 14 | Zoonoses e Saúde Única

Autores

Melissa Siqueira Martins, Ana Laura Ramos Mendes Coelho, Bárbara Fernandes Dorante, Beatriz Zannuzzi Rossetti, Isabella Machado Andrade, Joziana Muniz de Paiva Barçante, Carine Rodrigues Pereira