Dados do Trabalho


Título

A política de precificação de medicamentos no Brasil favorece a incorporação de novas tecnologias em saúde? Uma análise a partir da incorporação de antirretrovirais no SUS

Introdução

O desenvolvimento dos antirretrovirais (ARV) mudou o cenário da epidemia de HIV/aids, mas o alto preço foi e continua sendo uma barreira de acesso a eles, determinando as possibilidades de incorporação pelos sistemas de saúde. No Brasil, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) estabelece limites de preços para a venda de medicamentos a fim de favorecer a concorrência e a acessibilidade no setor farmacêutico. Mas estudos apontam que os preços CMED ainda possibilitam abusos, resultando em uma regulação de preços ineficaz.

Objetivo (s)

A fim de contribuir com o debate sobre as melhorias necessárias na regulação de preços de medicamentos no Brasil, este estudo visa a avaliar a diferença entre o preço máximo de venda ao governo (PMVG ICMS 0%) estabelecido pela CMED, o preço de incorporação e o preço da primeira compra de ARV ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Material e Métodos

Para a seleção dos ARV, foram avaliados, de 2011 a 2023, os relatórios da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) que recomendaram a incorporação de ARV. Nesses relatórios, foram identificados os preços propostos para a incorporação de cada ARV. O preço CMED de cada ARV foi verificado nas listas disponibilizadas pelo órgão, considerando o mês de abril do ano de incorporação do medicamento. Já o preço da primeira compra após a incorporação dos ARV foi verificado no sistema de informação logístico do Departamento de HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Resultados e Conclusão

De 2019 a 2023, foram identificados 10 relatórios finais da Conitec favoráveis à incorporação de ARV (3 relativos a novos medicamentos, 2 à ampliação de uso de medicamentos já incorporados e 5 a novas apresentações de fármacos já incorporados). A menor diferença identificada entre o preço CMED e o preço de incorporação foi de 12,8% para o medicamento maraviroque 150 mg e a maior de 92,9% para o tenofovir 300 mg/entricitabina 200 mg. O preço de incorporação dos ARV foi, em média, 57% menor que o preço CMED. O preço da primeira aquisição foi, ainda, até 20% menor que o preço de incorporação para 67% dos medicamentos. A diferença média entre o preço CMED e o preço da primeira compra dos ARV, após incorporação, foi de 58,1%. Os resultados indicam que os preços CMED se distanciaram consideravelmente dos preços de incorporação e dos preços contratados nas compras públicas de ARV, tendo sido, assim, aparentemente inócuos para determinar preços acessíveis.

Palavras Chave

Comercialização de Medicamentos; Acesso a Medicamentos Essenciais e Tecnologias em Saúde; Barreiras ao Acesso aos Cuidados de Saúde

Área

Eixo 02 | 3.Tecnologia e Inovação em saúde - Outras

Prêmio Jovem Pesquisador

4.Não desejo concorrer

Autores

LUCIANA MELO NUNES LOPES, CAROLINNE THAYS SCOPEL, GUSTAVO LUÍS MEFFE ANDREOLI, RONALDO HALLAL, FRANCISCO ALISSON PAULA FRANÇA, MARCELA VIEIRA FREIRE, TAYRINE HUANA SOUSA NASCIMENTO, LILIAN NOBRE MOURA, CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUE ALMEIDA JUNIOR