Dados do Trabalho

Título

Hepatite E no Brasil: Investigação de Casos Humanos e Evidências de Transmissão Zoonótica

Introdução

O vírus da hepatite E (HEV) é um importante agente causador da hepatite aguda (HA). Apesar de relatos de infecção em humanos no Brasil, a investigação não é realizada rotineiramente, mesmo em casos de elevação das enzimas hepáticas ou HA. Para melhor compreensão dos padrões de circulação do HEV, conduzimos uma investigação em pacientes com HA pelo vírus da hepatite A (HAV) e em pacientes com HA sem uma causa definida.

Objetivo (s)

Investigação da soroprevalência e a caracterização molecular do HEV em pacientes com hepatite aguda.

Material e Métodos

Amostras de plasma de dois grupos foram analisadas: grupo 1- pacientes com hepatite A aguda definida pela presença de anticorpos IgM para HAV (n=48); grupo 2- pacientes com HA não A-C (n=47). Foram testadas por ensaio imunoenzimático para pesquisa de anti-HEV IgM/IgG (Dia.Pro) e por PCR em tempo real. Amostra positiva para HEV RNA foi submetida ao sequenciamento. Comitê de ética número: 74535417.3.0000.0068.

Resultados e Conclusão

A soroprevalência de anti-HEV IgM e IgG no grupo 1 foi de 4% (2/48) e 14,5% (7/48), respectivamente. Um caso apresentou positividade simultânea para ambas classes de anticorpos. O RNA viral não foi detectado em nenhuma amostra. No grupo 2, a positividade de anti-HEV IgM foi 4,3% (2/47) e IgG de 14,9% (7/47). O RNA foi detectável em um caso (IND_7), que apresentou carga viral de 222,4 UI/μL e anti-HEV IgM/IgG positivos. Era um paciente do sexo masculino, 67 anos, sem histórico de viagens internacionais. Na admissão hospitalar apresentou sintomas como inapetência, náuseas, dor epigástrica e fezes esbranquiçadas, e elevados níveis de enzimas hepáticas. A análise filogenética mostrou estreita relação com o genótipo/subtipo HEV-3f. Conclusão: A transmissão zoonótica é reconhecida como um modo de infecção do HEV-3. No Brasil, estudos confirmaram a presença do HEV em suínos e em produtos alimentícios derivados de carne suína. Curiosamente, o paciente IND_7 havia viajado recentemente para a cidade de Garanhuns-Pernambuco, região próxima de áreas com criação de suínos nos quais há relatos de elevada soroprevalência do HEV. Foi interessante observar que a cepa de HEV isolada no presente estudo se agrupou com cepas isoladas de suínos de cidades próximas onde o paciente esteve, sugerindo uma possível transmissão zoonótica nesta região. Recomendamos a implementação de testes para pesquisa do HEV na prática laboratorial para melhor compreensão da epidemiologia da infecção e estratégias de vigilância mais eficazes.

Palavras Chave

Vírus da hepatite E; Hepatite aguda; caracterização molecular; soroprevalência; transmissão zoonótica